Nossa Terra

Mais do que o nosso território, esta é a nossa terra.

Quando o waradzu pensa na terra indígena, ele pensa em uma terra parada, e cercada, como são as suas fazendas.

Quando nós, A’uwe, pensamos na terra, nós pensamos nos movimentos de tudo que há nela. Pensamos nas águas, que correm para o nosso rio. Pensamos nas plantas, que espalham suas sementes. Pensamos nos animais, que correm o campo. E pensamos em nós, os A’uwe, que usamos os caminhos pela mata para caçar, pescar e coletar frutos.

Reportagem do jornal Correio Braziliense, de 1985, que noticia a mobilização na TI Sangradouro contra os impactos do asfaltamento da BR-070, e pela conclusão da demarcação.

Reportagem do jornal Diário de Pernambuco, de 1980, noticiando a ocupação da sede da Funai pelas lideranças da TI Pimentel Barbosa, exigindo a retirada dos invasores e a conclusão da demarcação da terra.

Esses caminhos vão desde a foz do Öwawe, o “rio das Mortes”, até as suas cabeceiras. Nós, A’uwe, os chamamos de maranã bödödi.

Antes da chegada do waradzu, nós caminhávamos por ele para visitar os nossos parentes, e construíamos aldeias ao seu redor. Foi por esses caminhos, também, que resistimos aos massacres que os waradzu nos impuseram.

Esses caminhos são a nossa terra. Esses caminhos são parte do nosso povo. O maranã bödödi é o mundo físico e espiritual A’uwe.

O waradzu, no entanto, derrubou o ró para abrir grandes fazendas em todo vale do Araguaia, às margens do rio das Mortes e na Serra do Roncador. O governo recortou as nossas terras com rodovias, e criou vilas e cidades nas imediações dos nossos territórios.

Nossa terra foi recortada, nosso povo foi dividido.

Nossos avós resistiram.

Seguindo os passos deles, nós também resistimos.

A Associação Xavante Warã luta pela proteção integral da nossa terra, e defende:

  • a gestão integrada de todos os territórios xavante;
  • a conclusão dos cinco procedimentos demarcatórios pendentes;
  • a revisão das demarcações feitas sem os devidos estudos antropológicos, sob o autoritarismo dos governos militares;
  • a criação de corredores de áreas protegidas entre os territórios demarcados, de modo a garantir a circulação das águas, das plantas, dos animais e dos próprio A’uwe-Xavante;
  • a proteção do rio das Mortes como um patrimônio cultural e ambiental do povo A’uwe, e de todos os brasileiros;
  • o monitoramento e a fiscalização dos ilícitos ambientais cometidos no interior e nas imediações dos nossos territórios; e
  • a participação de todos os A’uwe nos estudos de impacto ambiental das rodovias, ferrovias, hidrelétricas e demais empreendimentos que impactam o ró e o modo de vida do nosso povo, garantido o direito de consulta livre, prévia e informada.

Para alcançar esses objetivos, desenvolvemos nossas ações [link para Nossas ações] em três linhas:
 

  • Defesa do território e enfrentamento dos empreendimentos;
  • Gestão ambiental e territorial das terras Xavante para o desenvolvimento sustentável; e
  • Organização comunitária, e organização das mulheres.

Mulheres reunidas no II Encontro de mulheres A’uwe – Piõ Nori Tsiptede. TI Sangradouro, 2023.